sexta-feira, 9 de outubro de 2015

SECA SERTÃO ADENTRO


atualizado em 11 de abril de 2013 ás 16:36

Indústria da seca, poder político e pobreza

A pesquisadora Liliana Peixinho percorreu dezenas de cidades nordestinas para ver de perto os horrores da pior seca dos últimos 50 anos. Registrou depoimentos de dor, captou conversas espontâneas em ambientes abertos e flagrou cenas cotidianas sobre a origem dos elos perversos entre a Política e a Indústria da Seca.
LILIANA PEIXINHO*
lilianapeixinho@gmail.com
O cenário da seca, Sertão Adentro, é de descaso, abandono, dor. As gestões municipais desconsideram estudos, previsões, diagnósticos. Resultados de pesquisas científicas com indicadores de ciclos climáticos servem mais para justificar a captação de recursos para elaboração de projetos e programas que não saem do papel, do que para ações reais de prevenção e cuidado com a vida.
As previsões para 2013 é de continuidade da seca no Nordeste. E o povo continua sofrendo as consequências da falta de aplicação de ações para garantir a vida em seus diversos ciclos.
A falta de planejamento fortalece articulações políticas para a liberação de recursos emergenciais alocados em rubricas que deveriam potencializar a riqueza local para a autosustentação comunitária. Mas, em campo, a lógica é perversa. Parece ser calculada para alimentar sistemas que não funcionam, como, Saúde, Educação, Moradia, Segurança.
A miséria é alimentada em períodos longos por meio de programas como Bolsa Família e outros mecanismos de combate à fome. Funcionam no curto prazo e, ao longo dos anos, inibem a proatividade e a autosustentação . O plantio diminui, os pastos aumentam, a mata some e o lixo aparece. Além disso, os leitos dos rios ficam cada vez mais invisíveis e o povo, em agonia, faz de conta que vive.
Na beira das estradas os lixões intensificam a degradação no semiárido. Foto: Liliana Peixinho.
Na beira das estradas os lixões intensificam a degradação no semiárido. Foto: Liliana Peixinho.
A informação circula rápido, de boca em boca, para cultuar valores descartáveis, incentivados por um modelo econômico que confunde crescimento com desenvolvimento. É mais fácil comprovar o sacrifício que famílias inteiras fazem para comprar um aparelho de tv de altas polegadas, em prestações à perder de vista, do que ver garantida a feira seminal, com alimentos saudáveis. Nessa sentido, é mais fácil conseguir a instalação de uma quadra de futebol e a manutenção de times, do que equipar uma escola com biblioteca e computadores a serviço da educação.
Toma lá, da cá
“Nunca vi tanto dinheiro solto, como nessas eleições! Os caras chegavam com os pacotes de mil reais, para conversar com os contatos das negociação de voto”. Essa foi a frase que ouvi de um senhor, o qual irei preservar aqui, numa conversa informal. Com a cara mais cínica do mundo. Sorriso largo, de quem sabe que não está agindo certo, parecia se justificar com a frase: “Oxe, quem está melhorzinho faz assim, e por que eu ficaria de fora?”.
E quem entra na conversa com discurso ético é logo cotado como besta, ingênuo. O os argumentos populares assentem que não adianta pensar que a postura é errada. A justificativa é que, se um não faz, tem outro esperando a oportunidade pra fazer. Afinal,  a “necessidade é grande e os filhos, aos montes, esperam por comida”.
Entre a publicidade massiva dizendo que faz, e a percepção da realidade, as evidências se expõem em caminhos sujos, degradados, tristes. A falta de acesso à água para sanar problemas de perdas na agricultura, comércio e as cadeias de produção em torno da garantia da vida, é histórica e não basta denunciar, é preciso fechar o ciclo de crimes impunes.
O cidadão, que fortalece o poder político, continua sendo controlado através de contrapartidas eleitoreiras de enganação. E o Sertão é alvo histórico nesse processo.
 O Bolsa Família e outros sistemas de manutenção da miséria que possuem relação direta com a falta de produção de culturas tradicionais de roças em cidades do Nordeste brasileiro.

Pequeno agricultor não consegue plantar e colher há pelo menos quatro anos. Foto: Liliana Peixinho.
Pequeno agricultor não consegue plantar e colher há pelo menos quatro anos. Foto: Liliana Peixinho.
Degradação e vida
“Faz mais de cinco anos que a gente não consegue mais plantar e colher como antes. Agora temos que comprar tudo na cidade, o feijão, a farinha, o milho e até a mandioca – que a gente sempre fez a tapioca. Agora compramos o polvilho, já refinado”, diz 
o pequeno agricultor Eroncio Porciono, 54 anos. Pai de dois filhos recebe benefício do governo e usa para comprar a cesta básica na cidade. No entanto, é com muitas dificuldades que sobrevive, inclusive para manter os filhos na escola, já que estudam longe de sua casa.
O Sertão está sedento de cuidados, justiça, atenção e respeito ao seu povo. Na Bahia, por exemplo, dos 417 municípios do estado, mais da metade, cerca de 240 prefeituras, solicitaram o “decreto de estado de emergência”. Usado mais como ato político eleitoreiro, na criminosa compra de votos, do que para aquilo que o povo necessita e tem direito.
Perdas em cadeia
Um olhar contextualizado Sertão adentro, revela que a água é utilizada como moeda forte de troca. No curto tempo, na emergência de socorrer a vida, banaliza-se os meios políticos utilizados para, a longo prazo, aumentar o sofrimento nordestino, registrado em lentes ampliadas.
Essa resistência aos efeitos negativos da seca alimenta a injeção gorda de recursos em programas como Água pra Todos, Combate à Pobreza e à Miséria, dentre outros espalhados em Ministérios. Os desvios e desperdícios agem rápido no agravamento das mazelas, capitalizadas pela velha e perversa política coronelista, que só mudou de nome, mas ainda permanece como herança maldita entre gerações para garantia de votos.
As perdas, essas sim, são transversais, e acumulam saldos culturais, pessoais e psicológicas, em cadeias sucessivas. Nesse cenário, mais de dois milhões de pessoas fragilizadas engrossam as filas para se curvar e receber migalhas em forma de cestas básicas, remédios, jogos de camisas de futebol, consultas médicas apressadas – para fazer de conta que cuidam da vida, pendurada em cabides de subemprego.
O grande projeto político é a capitalização dos votos, em sistemas históricos de exploração, herdados do clientelismo, travestido em política inclusiva. Associações, sindicatos, ONGs e coletivos diversos integram um engendrado sistema de captação de recursos construídos em representações de cargos politicos. O intuito é disputar editais forjados, processos seletivos escamoteados, contratação de consultorias técnicas, empregos e cargos arranjados por indicação, num sistema de controle total dos recursos.
Água como moeda
O uso da água como moeda de troca é histórico. A capitalização política da miséria nordestina foi exposta por Josué de Castro como “Nordeste inventado”, na obra Geografia da Fome de 1984. Ao inserirmos a discussão sobre o acesso à água e outros direitos básicos não assegurados a Bahia, por exemplo, se destaca entre os menores índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Cenário da seca é marcada por animais mortos e muito abandono / Foto: Liliana Peixinho.
Cenário da seca é marcada por animais mortos e muito abandono / Foto: Liliana Peixinho.
Manifestações populares de peso como a mobilização contra projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, apoiada por diversas representações comunitárias de todo o Brasil em outubro de 2005 chamaram atenção internacional sobre o valor e importância da água nas comunidades historicamente excluídas desse direito.
Mas o paradoxo entre o que se diz e que está sendo feito, como o discurso político empresarial, e a realidade apresentada pela falta da ação concreta, in loco, não interessa detalhar para não se repetir. É nesse cenário, contudo, que o sofrimento do nordestino vira tese de doutorado, roteiro de filme, peça teatral, letra de música. Espaços nos quais a estética mais capitaliza a dor do que contribui para resolução de problemas.
+SECA: SERTÃO ADENTRO
*Liliana Peixinho é jornalista, especialista em  Jornalismo Científico e Tecnológico, com atuação em Mídia, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Ativista socioambiental, fundadora dos Movimentos Amigos do Meio Ambiente (AMA) e Rede de Articulação e Mobilização Ambiental (RAMA).

domingo, 7 de junho de 2015

FAÇA O SEU LIXO ZERO COM O AMA

AMA cria CICLO LIXO ZERO
Liliana Peixinho - Jornalista Ativista
O Movimento AMA - Amigos do Meio Ambiente, criado em 1999, está a realizar ações em condomínios para o DESPERDICIO ZERO = LIXO ZERO = AMBIENTE 10
O bloco 37, bairro Saboeiro, Salvador- Bahia, apresenta resultados que começam a brotar bons frutos, em cadeia de uso e descartes limpos de ponta a ponta. A sensibilização é focada em Cultura dos 7 Rs : Racionalizar, Reduzir, Repartir, Reutilizar, Reinventar, Reutilizar, para Revolucionar comportamentos. A proposta é mudar hábitos sujos, em limpos.
Identificamos, apoiamos e incluímos catadores, artesãos, artistas, educadores ambientais, donas de casas proativas, como Agentes Transformadores.
A coleta que o AMA faz, porta a porta, gera saneamento, renda, inclusão comunitária, cidadania e alegria, a quem recebe e transforma.
Nosso sonho, desde1999, é " LIXO ZERO". Achavam loucura! E o mundo mostra que é possível, e necessário. Basta querer e fazer.
Se tudo for separado para descartar, em cuidado, até o orgânico - problema seríssimo em falta de saneamento - vai adubar os "QUINTAIS VERDES"
Nossa meta é educar sensibiizar, na ação do fazer, para subverter o conceito "lixo": algo sujo, misturado, foco de doenças - em civilidade, saúde, onde MENOS consumo, será sempre, MAIS: vida, harmonia, felicidade de verdade!
Entenda o CICLO DESPERDICIO ZERO = LIXO ZERO = AMBIENTE 10
Veja fotos da sequência do ciclo
1 - Com a síndica Vécia Acely, do bloco 37, Saboeiro, Salvador, Bahia. As Caixas Coletaras AMA pegam carona em carro amigo, como o de Nanci Belas para a trilha de exemplo multiplicador. até artesãos e agentes transformadores do bem.
2 - A artista da Galeria de Artes Zel Torres, recebe o material coletado pelo Movimento AMA - Amigos do Meio Ambiente, que, em ação agregadora, do OUTRO NO EU, expõe trabalhos, feitos com arte e compromisso pelo casal Ivan e Diva, da Mosaicos Reciclados, onde turistas e visitantes compram, usam, e decoram ambientes, de forma harmoniosa, sustentável, de fato, ao ajudar, incluir, valorizar a produção da comunidade local.
3 - Sabe aquelas Caixinhas de leite, sucos... embalagens de material de limpeza, caixas de papelão de produtos diversos" Então, cada morador separa os seus resíduos, de forma limpa e educada, e ao sair para a rua, dá uma paradinha na porta do 201 e deixa a Caixa AMA Coleta ou a Sacola AMA, no trinco e o que seria: "lixo", se transforma em "arte", renda, inclusão, saneamento, civilidade, vitrine para o mundo. Um exemplo é a Galeria de Artes Zel Torres, na Comunidade de Arembepe, Litoral Norte da Bahia.
4 - E aqueles vasos de produtos de limpeza?. Como danificam os rios, mares e florestas, Brasil afora. Mas, cortados em pequeninos pedaços e montados em mosaicos, viram quadros lindos, com resgate de culturas tradicionais: Quilombolas, pescadores, marisqueiras, muito presentes na Bahia. Povos que na zona rural, recebem do AMA vasilhames de coleta de óleo de cozinha, que não foi ralo abaixo poluir a água tratada e vira sabão, em mãos cuidadosas como as da família de Seu Arnou, lá na comunidade de Umburana, Bahia Sertão Adentro.
5- E aquela madeiras de demolição? É totalmente reaproveitada em arte útil e decorativa, colorindo e alegrando a casa, o trabalho, a escola.
6 - E como o Brasil consume muito cerveja, refrigerante, sucos e tais o que fazer com tanta ( aff) latinhas?. O Luiz Cerqueira mostra o que ele faz. Usa como base de parede para Moradia Sustentável na Comunidade Alternativa Aldeia de Arembepe., Litoral Norte da Bahia.
" Uso 10% de cimento e o restante, de areia, Liliana, " diz o artista plástico Luis Cerqueira, do Studio 44. Luis também usa material que o mar rejeita nas areias das praias. Todas as manhãs, depois de sua corrida na Praia de Arembepe e do seu banho de mar, Lula volta ao Studio 44, cheio de resíduos, rejeitados pelas águas de mares até distantes da Bahia, do Brasil E ele Reutiliza tudo, em "Arte Protesto".
7 - Olha ai Banheiro Sustentável, ao ar livre, no Studio 44- do Artista Luis Cerqueira. Fica no Paraíso Ecológico Aldeia de Arembepe -Litoral Norte da Bahia.
8 - E como cimentar todo o quintal é bizarro, criminoso mesmo, olha o herbário do bloco 37, adubado organicamente, e com diversas plantas como: erva cidreira, capim santo, hortelâs: graúdo e miúdo, alumã, boldo, entre outras fontes de combate a problemas de saúde.
9 -Observe o cuidado de dona Maria Amélia - 84 anos, que ama plantar e colher flores, folhas e frutos - separando folhinha por folhinha, da colheita que o AMA realiza no bloco 37, e leva pra ela fazer seus chazinhos orgânicos.
10 - E para celebrar com quem leu e entendeu tudo, é hora de ferver o chá e brindar a Vida- em construção diária de ciclos limpos, saudáveis e harmoniosos - com a matriz Mãe Natureza!